Empresário que denunciou esquema no MEC diz como era a abordagem por propina

Portal SBN
Quarta, 20 de outubro de 2021, 16:15:21

Empresário que denunciou esquema no MEC diz como era a abordagem por propina

Responsável pela denúncia que levou à prisão do ex-ministro Milton Ribeiro e de pastores. Ele revela detalhes do esquema que vem sendo investigado pela PF.
Brasil - Escândalo

O Fantástico apresenta uma entrevista com o empresário que denunciou um esquema de corrupção no Ministério da Educação. As acusações levaram à prisão, esta semana, do ex-ministro Milton Ribeiro e de outros quatro suspeitos.

Escutas telefônicas, autorizadas pela Justiça, acabaram envolvendo o presidente Jair Bolsonaro no escândalo. Agora, senadores pedem que o Supremo Tribunal Federal apure a possível interferência de Bolsonaro na investigação.

Começou em Nova Odessa, interior de São Paulo, num evento para secretários e prefeitos da região, a denúncia que terminou na prisão de Milton Ribeiro. Denúncia feita pelo empresário e radialista Edvaldo Brito.

Além do ex-ministro Milton Ribeiro, a Polícia Federal prendeu o pastor Gilmar Santos, presidente da Convenção Nacional de Igrejas e Ministros das Assembleias de Deus no Brasil, e Arilton Moura, diretor do Conselho Político da mesma convenção.

A polícia acredita que eles cobravam propina para organizar encontros com Milton Ribeiro, na época ainda no cargo, e direcionar verbas do Ministério da Educação. A operação Acesso Pago, da Polícia Federal, começou depois que Edvaldo Brito apresentou às autoridades provas do que seria um pagamento de propina.
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“Eu descobri que o ministro tinha um gabinete itinerante. Os técnicos do FNDE iam para um determinado município, organizavam um evento em parceria com os municípios, e aí todos os outros municípios eram atendidos”, diz Edvaldo.

FNDE é o Fundo Nacional de Desenvolvimento da Educação, órgão que faz a distribuição de recursos do Ministério da Educação para estados e municípios. Edvaldo conta que procurou o pastor Gilmar Santos para ver se seria possível levar o então ministro e o gabinete itinerante para a sua região, no interior paulista.

Depois dos encontros com os técnicos, costumava haver um culto evangélico organizado pelos pastores Gilmar e Arilton Moura.

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“O ministro pregava nesse culto. Acabei descobrindo o contato do Gilmar através da própria igreja dele. Liguei para ele, que marcou para me atender em Brasília, num hotel. Eu fui até lá”, revela Edvaldo, acrescentando que o encontro no hotel aconteceu em maio do ano passado com os pastores Gilmar e Arilton. “Eu vi que realmente tinha uma mesa lá em que ele atendia, conversava. Depois, chamava o outro na mesa.”

Os dois, diz Edvaldo, aprovaram a ida do gabinete itinerante até Nova Odessa: “Naquele momento, eu estava falando com um pastor, um pastor que ajudava as pessoas. Porque o que eu conheço é isso. O que eu conheço do cristão é se doar”.

Depois, segundo o empresário, os pastores pediram que ele e o prefeito do município fossem a Brasília. O objetivo: gravar um vídeo com o então ministro. Após esse encontro, Edvaldo afirma: houve um pedido de dinheiro feito pelo pastor Arilton.

“O próprio Arilton disse: ‘Olha, eu preciso que você faça uma doação. É para uma obra missionária’. Eu falei: ‘Tudo bem. E de quanto é essa doação?’, aí ele falou: ‘Ah, por volta de R$ 100 mil reais é a doação’. Eu falei: ‘É muito. Eu não tenho. Eu não tenho condição. Mas eu tenho amigos, pessoas, empresários que costumam investir na obra e que eu vou pedir a doação’.”
E em março deste ano, o caso veio à tona. No dia 18, o jornal “Estado de S. Paulo” publicou uma reportagem revelando que um grupo liderado por Arilton Moura e Gilmar Santos controlava a agenda do ministro e investimentos de recursos públicos. No dia 24, o jornal “Folha de São Paulo” divulgou um áudio de Milton Ribeiro em que ele afirma que atendia a prefeitos amigos do pastor Gilmar Santos a pedido do presidente Jair Bolsonaro.

Esta semana, no dia 9, numa ligação à filha, o ex-ministro relatou um telefonema do presidente Jair Bolsonaro.

“Hoje o presidente me ligou. Ele está com pressentimento novamente de que eles podem querer atingi-lo através de mim. Ele acha que vão fazer uma busca e apreensão em casa”, disse Milton Ribeiro.
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Naquele dia, Bolsonaro estava na Cúpula das Américas, nos Estados Unidos, junto com o ministro da Justiça, Anderson Torres, a quem a Polícia Federal é subordinada.

No dia 22 junho, quarta-feira passada, a Polícia Federal prendeu o ex-ministro; os pastores Arilton e Gilmar; e, também, Helder Diego da Silva Bartolomeu, genro de Arilton, e Luciano de Freitas Musse, ex-gerente de Projetos da Secretaria Executiva do MEC. Naquele dia, Arilton Moura ligou para a advogada.

“Eu preciso que você ligue para a minha esposa, acalme minha esposa. Porque se der qualquer problema com a minha menininha, eu vou destruir todo mundo”, disse Arilton Moura.
A Polícia Federal apresentou como indício do envolvimento do ex-ministro o recebimento de dinheiro pela transação de um carro. A mulher de Milton Ribeiro vendeu um veículo para a filha do pastor Arilton Moura. O valor recebido: R$ 50 mil. Um dia depois da prisão, todos foram soltos, e agora respondem em liberdade.

“Não foi corrupção da forma que está acostumado a ver em governos anteriores. Foi de história de fazer tráfico de influência. É comum”, disse Jair Bolsonaro numa live.
Na sexta-feira (24), o juiz do caso decidiu enviar o processo para o Supremo Tribunal Federal, por entender que há indícios de interferência do presidente Bolsonaro.

O presidente Bolsonaro defendeu neste domingo (26) o ex-ministro Milton Ribeiro. Em entrevista ao programa 4 por 4, na internet, Bolsonaro disse que a operação contra Ribeiro tinha o objetivo de constranger o governo. Que "não tinha indícios mínimos de corrupção por parte dele, e no meu entender ele foi preso injustamente". O presidente disse que o Ministério Público tinha sido contra a prisão, e declarou que o dinheiro depositado na conta da esposa de Milton Ribeiro foi produto da venda de um carro.

O ministro da Justiça, Anderson Torres, escreveu neste domingo, em uma rede social, que não tratou de operações da Polícia Federal com o presidente Jair Bolsonaro na viagem que fizeram aos Estados Unidos no início do mês. A PF é subordinada à pasta dele. Anderson torres afirmou: "Asseguro categoricamente que, em momento algum, tratamos de operações da PF. Absolutamente nada disso foi pauta de qualquer conversa nossa na referida viagem".

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Assista à reportagem no vídeo acima, com mais trechos da entrevista, informações e as posições das defesas.

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